É com os olhos brilhando, repletos de orgulho, que o
comerciante José Lopes dos Santos, de 85 anos, morador da Vila Chacrinha, fala
da professora da Educação para Jovens, Adultos e Idosos (EJAI), Beatriz
Casemiro. Foi ela que, segurando a mão do aluno, fez com que ele enfim juntasse
as letras para dar os primeiros passos na leitura e escrita. "O que ela fez por
mim é uma riqueza. Considero essa professora como uma mãe."
José, que é de Teófilo Otoni, veio para São Paulo com a
mulher e os filhos em 1975. "Sempre trabalhei na roça e nunca tive a chance de
estudar." O primeiro contato com os estudos veio em 2016, tudo por conta de uma
necessidade. "Fui renovar a carteira de habilitação e me pediram para escrever
a palavra 'Ciretran'. Como eu não soube, me tomaram a carta. Foi quando resolvi
entrar na escola."
O começo foi complicado. "A cabeça misturava tudo, mas
aprendi a escrever 'Ciretran'". Um tempo depois, após voltar ao órgão, ele
percebeu que não bastava apenas isso para renovar a carteira. E, se
aproveitando da inocência de José, uma pessoa fez com que ele pagasse R$ 3.500,
que pegou em um empréstimo, achando que pegaria a habilitação de volta. "Descobri que a pessoa havia me passado para trás quando, em uma blitz, soube
que minha carteira seguia bloqueada."
De lá para cá, o desejo de recuperar a carteira de motorista
não morreu. No entanto, os motivos para o estudo mudaram. Neste ano, ele
reencontrou a professora Beatriz, que havia conhecido em 2016 nas primeiras
aulas do EJAI. Em 2017 ela se afastou do cargo de professora para assumir uma
coordenação. "Apesar de ter estudado um tempo, eu ainda não estava conseguindo
ler e escrever. Graças a ela consegui. Dei uns três ou quatro passos para a
frente neste ano. Aprendi a ler um pouco e a rabiscar algumas palavras",
comenta ele, que em 2018 conclui a segunda série e já está ansioso pela
terceira em 2019.
A querida professora Beatriz não esconde o orgulho do aluno.
Conta que ele é participativo e faz questão de ler para a turma e escrever na
lousa. "Na reta final, muitos alunos pararam de vir e ele sempre está na aula.
Aproveitei para ensiná-lo a ler placas de trânsito. Além disso, todo o conteúdo
trabalhado ao longo do ano tem a ver com o cotidiano dele, que tem uma
mercearia e cozinha muito bem." Por isso, entre as palavras que ele já
aprendeu, além de Ciretran, estão também itens do comércio e ingredientes das
receitas que faz.
A professora conta ainda que ele é frequente nas aulas e se
afastou alguns dias neste ano após pegar uma pneumonia. "Eu e alguns alunos
fomos visita-lo na casa dele. Após a visita, ele melhorou e engatou nos
estudos."
Sobre a paixão pelos estudos descoberta por acaso, após os
80 anos, sr. José é enfático. "Só saio da escola se Deus me tirar."
A EJAI - A Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJAI) recebeu a inscrição de mais de 500 alunos da 1ª a 8ª série neste ano. Já o cursinho pré-vestibular abriu horizontes para 96 alunos. Também ocorreram aulas de língua portuguesa para estrangeiros, com 38 inscritos.